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terça-feira, 11 de março de 2008

ATÉ QUE A MORTE OS SEPARE. E OS JUNTE OUTRA VEZ

Marido morre 22 dias após a esposa. Eles sofriam de problemas de saúde.


A fachada do número 56 da Rua Mercedes Seiler Rocha nunca esteve tão sombria. A casa branca, de beirais e portas cinza, que até pouco tempo fora cenário de felicidade, agora está fechada e vazia. Ali, na divisa entre Bairro Alto e Bacacheri, ficava o lar oficial da família Marafon, onde o casal Flavio e Neusa morava há mais de 30 anos.
Flavio Riel Marafon, 55 anos, era velho conhecido de toda vizinhança. Não apenas pela cordialidade e gentileza, mas também pelos caprichosos serviços gerais de pedreiro que prestava. Naquela rua, várias foram as reformas feitas por Flavio que, não raro, também atuava como encanador e eletricista.
Neusa Marafon, 56 anos, era, assim como o marido, uma pessoa muito bem quista pelos vizinhos. A prendada dona de casa, além de cuidar das tarefas domésticas, também se prestava a ajudar a Associação Beneficente São Roque, onde trabalhava nos bazares, promovidos pela Escola de Educação Especial Menino Jesus.
Os dois, depois de criarem suas duas filhas, Daniele e Tatiana, viviam, agora, para cuidarem um do outro. E, realmente precisavam de cuidados. Neusa lutava contra o diabetes. O mal, aliado à obesidade, lhe rendeu, além de problemas circulatórios (como varizes – algumas já trombosadas), sérias complicações renais. Ela era submetida a sessões de hemodiálise semanais e sua saúde era, deveras, frágil.
Flavio, um homem aparentemente forte e saudável, não apenas preocupava-se com a sua esposa, mas, ultimamente, também consigo mesmo. As dores de cabeça – que os médicos sempre diagnosticaram como um sintoma de sinusite - foram identificadas, há um ano e meio, como um alarme muito mais preocupante: ele possuía dois tumores cerebrais.
Na batalha pela vida, diversas foram as internações de ambos. Há dois meses, o casal Marafon se mudara para a casa dos pais de Flavio, devido à instabilidade provocada por suas respectivas doenças. A filha mais nova, Tatiana - que ainda morava com Flavio e Neusa -, foi passar uma temporada na casa do namorado, enquanto Daniele, a filha mais velha, acompanhava a angústia dos pais à distância – ela vive em Ponta Grossa desde que se casou.
No início de fevereiro, no entanto, apesar de todos os cuidados dispensados, o quadro clínico de Neusa se agravou. Depois de ter sido internada às pressas, ela acabou não resistindo e, no dia 12/02, faleceu por falência múltipla dos órgãos.
A tristeza se abateu sobre a família e sobre todos os conhecidos do casal. Mas, sobretudo, em Flavio que, agora, estava sozinho. Apenas 22 dias após a morte de sua esposa, os tumores foram implacáveis. E depois de uma intervenção clínica também às pressas, Flavio não resistiu e morreu no último dia 06/03, devido ao câncer cerebral.
As mortes de Neusa e Flavio não conseguiram afastar o casal por muito tempo. Depois de uma vida inteira de cumplicidade e de 3 semanas de separação, hoje os dois descansam em paz juntos, no Cemitério Paroquial do Abranches, onde foram sepultados. O sempre unido casal deixou filhas, familiares e amigos.

3 comentários:

  1. Realmente Añña, é impressionante como são as histórias da vida!Os mistérios da morte!Encontros e desencontros!
    Isso mesmo, continue relatando os fatos, que além de nos mater informados poderemos ler seus textos que são muito bons e bem escritos!

    beijossss

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  2. Com isso comprovamos que sem o amor a vida não tem graça e nem sentido. Certamente após ver partir sua companheira,ele não viu mais razão pra seguir. Acaba que uma pessoa se torna a razão de viver.

    Parabéns pela versatilidade, por escrever sobre história e o tempo com a mesma competência. Adoro ler seus textos.

    Bjss

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  3. Anônimo9/6/08 17:18

    Parabéns pela iniciativa! Eu sou genro do Flávio e da Neusa. Ainda não mostrei esta matéria à Danielle, filha do casal, pois ela está muito abalada pelo ocorrido.
    Névio de Campos.

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