Espetáculo convida o público a sair do teatro em busca dos flagelos de Édipo
O diretor Darlei Fernandes como Corifeu, o "chefe do Coro", em cena de "Édipo_2: Párodo". Foto: Akio Garmatter/Divulgação.
A
Companhia Subjétil volta às ruas da cidade para apresentar “Édipo_2: Párodo”,
em cartaz na Mostra Fringe do Festival de Teatro de Curitiba nos dias 23 e 25
de março. O espetáculo
convida o público a sair da condição de espectador e seguir um percurso de performances potentes por ruas do São Francisco,
setor histórico da capital.
A
proposta artística do diretor Darlei Fernandes é abordar o discurso e a função
do Coro Trágico como foco principal do evento cênico, a partir do mito e da
estrutura dramatúrgica das tragédias gregas. Partindo do Teatro Novelas Curitibanas, os artistas
Carol Damião, Daniele Cristyne e Ricardo Nolasco desconstroem a tragédia ideal em busca dos flagelos do
filho de Jocasta em quase duas horas de errâncias pela região. Entre a
primeira cena e o êxodo, o trajeto contempla pelo menos doze pontos do bairro,
dentre os quais a Praça Odilon Mader e o Reservatório do Alto São Francisco.
Pensar Édipo é
reexplorar a cidade e entendê-la como um corpo amorfo que cresce e se molda ao
seu coro de vozes dissonantes. Não se trata de mais uma releitura da história
de Sófocles. Trata-se de uma procura pelo herói – embora, desde o começo do
espetáculo, sejamos avisados de que “Édipo não está e nem virá”.
No ano passado, quando em cartaz na Mostra Drama_1, promovida pela Companhia de Bife Seco, assisti ao espetáculo e escrevi algumas ruminações sobre ele n'A Escotilha (leia aqui). Dentre o que mais me chamou atenção à época, pontuei o seguinte:
"Cabe ressaltar o quanto a região em que a trama se estabelece é decisiva na composição não apenas do cenário, como, sobretudo, da dramaturgia. O conflito proposto por Édipo_2: Párodo funciona, dentre outras coisas, porque traz à cena o bairro-símbolo da divergência ideológica na cidade, a ambiguidade edípica por excelência. Eis um São Francisco que suscita pena e, ao mesmo tempo, encanto. Belo em sua podridão obscura; triste à sombra dos palacetes e discursos moralistas. O orgulho e a vergonha da “urbe-projeto-esgotado”. Um São Francisco esposa e mãe. Gozo e leite".
"Fora Cunha": as incoerências do cenário político nacional farão parte dos textos da peça. Foto: Akio Garmatter/Divulgação.
Para esta temporada no Fringe, a Subjétil promete atualizar a dramaturgia do espetáculo, levando em conta, sobretudo, o atual e conturbado momento político pelo qual o país atravessa. As divergências ideológicas, hasteadas em bandeiras rivais e inflamadas em discursos de amor e ódio, remontam à contradição edípica por excelência. Mais um motivo para conferir este transgressor trabalho da companhia curitibana.
Fundada em 2007 por
Fernandes, a Subjétil tem em seus trabalhos a pesquisa de criação cênica em
diálogo com a performance, a dança e a arquitetura. Os espetáculos do grupo
curitibano são reconhecidos pelo abandono do palco tradicional e das salas
teatrais para a invasão do espaço urbano. Em 2010, estreou “Édipo: Prológo”,
onde explorava, além do mito, a história da arquitetura da região no entorno do
teatro. Neste novo trabalho, Édipo retorna como tema de pesquisa, mas agora sob
o olhar do Coro, ou seja, do povo da cidade.
“Édipo_2: Párodo” tem entrada franca.
Recomenda-se ao público usar roupas e sapatos confortáveis e levar guarda-chuva,
se necessário.
Serviço
Companhia Subjétil
23 e 25 de Março (quarta e sexta), às 18h
Teatro Novelas Curitibanas
Rua Presidente Carlos Cavalcanti, 1222
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