Não atingi, nem dobrei a meta. Mas deu pra ler coisa pra caramba no desafio dos 50 livros
Foto: Daniele Cristyne. |
"Um dia antes de que 2014 escapasse
para sempre e em meio às promessas para o porvir, estabeleci uma resolução um
tanto audaciosa comigo mesma. Mais do que um objetivo pragmático, tratou-se de
uma missão que julgo transcendente: a de ler, ao longo de 2015, pelo menos
cinquenta livros – e não tons de cinza".
Essa história tornou-se conhecida em 30 de março, dia em que A Escotilha, excelente proposta de jornalismo cultural de Curitiba, foi ao ar. Fui parar na equipe de colaboradores a convite dos editores e amigos Alejandro Mercado e Maura Martins. Eles leram uma publicação no Twitter em que comentei sobre essa história de cinquenta títulos em um ano e acharam que seria bacana compartilhar minhas experiências de leitura com o público do portal que estava para ser inaugurado.
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Assim, fui presenteada com a coluna Contracapa, na qual eu escreveria não apenas a respeito de livros e suas tramas, mas, principalmente, sobre os meus percursos e processos de leitura. Um espaço, enfim, sobre travessias, devaneios e ruminações.
A partir da primeira publicação no site, intitulada "Contracapa: o desafio dos 50 livros" (leia aqui), o desafio tornou-se ainda mais sério. Agora que a meta era conhecida por muitas pessoas,
eu tinha mais é que me dedicar a cumpri-la - ou a parada ficaria muito feia pro meu lado.
Acontece que, transcorridos 12 meses, eu admito que não atingi o objetivo; não consegui ler os cinquenta livros a que tinha me disposto. Em minha defesa, posso dizer que a
tentativa, ainda que fracassada, foi ao menos determinada. Sincera. E, sim, muito produtiva.
Foram 40 leituras ao longo de 2015, das quais 35 válidas nos critérios que eu mesma estipulei nesse desafio (a lista completa segue no final deste post). O ano correu no ritmo das 9278 páginas das obras lidas, entre quadrinhos, contos, crônicas, poemas e, principalmente, romances; produções de 31 autores diferentes (25 homens e seis mulheres), vindos das Américas do Norte, Central e do Sul, além de Europa e África. Descobri as agruras mexicanas, o claustro de um convento na Colômbia, o horror das ditaduras da República Dominicana, de Marrocos e da Alemanha Nazista, um mundo pré e pós computadorizado no Chile, o buriti e as veredas do grande sertão brasileiro, as cenas cinzas da Curitiba que viajo. E olha que eu nem saí do meu sofá.
Mesmo que o eldorado não tenha sido tocado, o número que alcancei não deixa de ser expressivo: noves fora, a média final chegou a três livros por mês (ou 25 páginas por dia). O que importa, no entanto, não são as cifras, mas o sabor literário daquilo que foi contemplado. É aí que o feito, mesmo que incompleto, ganha valor genuíno para mim: eu não me enganaria ao dizer que trinta das minhas leituras foram ótimas em alguma medida.
Com isso, encontrei certa dificuldade em elaborar uma lista sobre quais teriam sido as melhores leituras deste ano. Isso porque o que torna um livro inesquecível não se resume à trama, à construção e à fluidez narrativa, ao estilo ou ao valor literário, mas engloba tanto as particularidades intrínsecas ao texto quanto as características de cada leitor - bagagem literária, referências socioculturais, carga de experiências, memórias afetivas, estado de espírito.
Fui obrigada, então, a elencar algumas categorias para qualificar os livros em diferentes aspectos - alguns mais mensuráveis, outros totalmente subjetivos. Assim, consegui abarcar livros que, ainda que muito bons em alguns pontos, deixariam de ser citados/lembrados se o critério fosse apenas "os melhores" - e, afinal, o que é melhor ou pior quando falamos em arte?
Eis, portanto, os meus destaques de 2015:
Os bonitões
1) O Hobbit: Lá e de Volta Outra Vez (WMF Martins Fontes)
3) a máquina de fazer espanhóis (Cosac
Naify)
O Filho de Mil Homens (Cosac Naify)¹
Os gigantes pela própria natureza
1) Harry Potter e a Ordem da Fênix (704 páginas)
2) Grande Sertão: Veredas (624 páginas)
3) Harry Potter e o Cálice de Fogo (536 páginas)
1) Harry Potter e a Ordem da Fênix (704 páginas)
2) Grande Sertão: Veredas (624 páginas)
3) Harry Potter e o Cálice de Fogo (536 páginas)
Rápidos, rasteiros e potentes
1) O mistério da prostituta japonesa & Mimi-Nashi-Oichi (18 páginas)
2) Festa no Covil (96 páginas)
3) Bonsai (96 páginas)
1) O mistério da prostituta japonesa & Mimi-Nashi-Oichi (18 páginas)
2) Festa no Covil (96 páginas)
3) Bonsai (96 páginas)
Frescor literário
1) a máquina de fazer espanhóis (leia a crítica)
Bonsai (leia a crítica)
2) A Fantástica Vida Breve de Oscar Wao (leia a crítica)
3) A Visita Cruel do Tempo (leia a crítica)
1) a máquina de fazer espanhóis (leia a crítica)
Bonsai (leia a crítica)
2) A Fantástica Vida Breve de Oscar Wao (leia a crítica)
3) A Visita Cruel do Tempo (leia a crítica)
Pancadaria literária
1) a máquina de fazer espanhóis
2) Mano, a noite está velha
3) Desonra
1) a máquina de fazer espanhóis
2) Mano, a noite está velha
3) Desonra
- Hors concour - Grande Sertão: Veredas
Melhores tramas
1) A Fantástica Vida Breve de Oscar Wao
Eu, Malika Oufkir, Prisioneira do Rei
2) A Visita Cruel do Tempo
Clube da Luta
3) O Hobbit: Lá e de Volta Outra Vez
1) A Fantástica Vida Breve de Oscar Wao
Eu, Malika Oufkir, Prisioneira do Rei
2) A Visita Cruel do Tempo
Clube da Luta
3) O Hobbit: Lá e de Volta Outra Vez
- Hors concour - Grande Sertão: Veredas
Melhores leituras
1) Grande
Sertão: Veredas
2) a
máquina de fazer espanhóis
Festa no Covil (leia a crítica)
O Hobbit: Lá e de Volta Outra Vez
Melhores releituras
1) Grande Sertão: Veredas
2) A Fantástica Vida Breve de Oscar Wao
3) Ultralyrics
1) Grande Sertão: Veredas
2) A Fantástica Vida Breve de Oscar Wao
3) Ultralyrics
Não indico nem a pau
1) Vinte
mil léguas submarinas (Adaptação de Walcyr Carrasco) – 1 estrela
2) A biografia de Torquato Neto – 2
estrelas
3) Harry Potter e a Ordem da Fênix - 3 estrelas
Enfim, pelo menos nas leituras, 2015 foi um ano excelente. Não li muitos clássicos, é verdade, mas consegui equacionar alguns déficits do meu repertório literário (literatura contemporânea, literatura infantojuvenil, literatura paranaense). Para o ano que vem, já tenho alguns planos em mente (Ulysses é o principal deles!), mas a meta fica em aberto. Assim, quando eu alcançá-la, quem sabe não poderei dobrá-la?²
LEITURAS DE 2015: Literatura (29) - A biografia de Torquato Neto - Toninho Vaz * Nelson Triunfo – Do sertão ao Hip-Hop - Gilberto Yoshinaga * Eu, Malika Oufkir, prisioneira do rei - Malika Oufkir e Michèle Fitoussi * A Trama do Casamento - Jeffrey Eugenides * Festa no Covil - Juan Pablo Villalobos * Se Vivêssemos em um Lugar Normal - Juan Pablo Villalobos * A Visita Cruel do Tempo - Jennifer Egan * O Oceano no Fim do Caminho - Neil Gaiman * A Fantástica Vida Breve de Oscar Wao - Junot Díaz * a máquina de fazer espanhóis - Valter Hugo Mãe * O Filho de Mil Homens - Valter Hugo Mãe * Bonsai - Alejandro Zambra * Desonra - J.M. Coetzee * Lincha Tarado - Dalton Trevisan * Como eu se fiz por si mesmo - Jamil Snege * A Nona Cartada - João Batista de Pilar * Ultralyrics - Marcos Prado * A Rainha Vermelha - Victoria Aveyard * Harry Potter e o Cálice de Fogo - J.K. Rowling * Grande Sertão: Veredas - João Guimarães Rosa * Vinte Mil Léguas Submarinas - Julio Verne (adaptação de Walcyr Carrasco) * Mano, a noite está velha - Wilson Bueno * Do amor e outros demônios - Gabriel Garcia Marquez * O Hobbit: Lá e de Volta Outra Vez - J.R.R. Tolkien * Meus Documentos - Alejandro Zambra * Harry Potter e a Ordem da Fênix - J.K. Rowling * O Mistério da Prostituta Japonesa & Mimi-Nashi-Oichi - Valêncio Xavier * O Grande Gatsby - Franz Scott Fitzgerald * Clube da Luta - Chuck Palahniuk. Outras linguagens (6) - Maus: a história de um sobrevivente - Art Spiegelman * Ópera da Lua – Osgêmeos * Vigor Mortis Comics - Paulo Biscaia Filho, José Aguiar e DW Ribatski * Songbook Paulo Leminski - Paulo Leminski/Estrela Leminski * Esperando Godot - Samuel Beckett * Eles não usam Black-Tie - Gianfrancesco Guarnieri.
¹: R.I.P. Cosac Naify. ♥
²: O contra desta capa representa uma bravata: leia mais.
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