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segunda-feira, 16 de março de 2009

MEMÓRIAS PÓSTUMAS: O OSCAR DE HEATH LEDGER



Já era de se esperar – ou, no mínimo, de se suspeitar. Na cerimônia do Oscar® 2009, a Academia de Ciências Cinematográficas de Hollywood reconheceu Heath Ledger como o melhor ator coadjuvante do ano anterior. Um Oscar, porém, infelizmente póstumo.

Ledger foi premiado por sua já memorável atuação em “Batman - O Cavaleiro das Trevas” (The Dark Knight – EUA, 2008). Filme que, não fosse a interpretação do ator, certamente não causaria tanta repercussão. Aliás, “O Cavaleiro das Trevas” acabou por ser um dos melhores filmes do ano. A atuação de Ledger na pele do enigmático Coringa é uma das mais marcantes para um personagem do gênero – ou alguém se lembra de atuação melhor em uma aventura de super-heróis?


O australiano morreu em janeiro de 2008 e não chegou a ver a (boa) impressão que o seu Coringa despertaria diante da crítica mundial. A morte, causada por uma overdose acidental de remédios, se deu cinco meses antes da estréia do filme.

Heath Ledger estrelou a lista dos cinco melhores atores coadjuvantes concorrentes à estatueta ao lado de nomes já consagrados, como Robert Downey Jr. - indicado por “Trovão Tropical” (Tropic Thunder – EUA/Alemanha, 2008) –, e Philip Seymour Hoffman, por “Dúvida” (Doubt – EUA, 2008). Acabou superando a performance de seus colegas.

Até a cerimônia do Oscar® 2009, apenas Peter Finch havia recebido premiação póstuma: em 1976, a academia agraciou o trabalho de Finch em "Rede de intrigas" (Network – EUA, 1976), dois meses após o ator sofrer um ataque cardíaco fatal.

Ledger já fora indicado ao Oscar por sua atuação em "O Segredo de Brokeback Mountain" (Brokeback Mountain - EUA, 2005), na pele do cowboy Ennis Del Mar. Naquela ocasião - edição de 2006 -, o ator concorreu ao prêmio de melhor ator, sendo, no entanto, vencido por Philip Seymour Hoffman pelo filme “Capote” (Capote – EUA, 2005). Ironia ou não, o mesmo Hoffman que, no Oscar® 2009, não superou o brilhantismo de Ledger e seu Coringa. Pelo menos, não na visão quase unânime da academia e de cinéfilos espalhados pelo mundo.

quarta-feira, 11 de março de 2009

CÂMARA MUNICIPAL HOMENAGEIA MULHERES DE CURITIBA

Sessão solene marca o Dia Internacional da Mulher



Na noite da última segunda-feira (9), a bancada feminina da Câmara Municipal de Curitiba, composta pelas vereadoras Julieta Reis, Professora Josete, Noemia Rocha, Renata Bueno, Dona Lourdes e Mara Lima, prestou tributo às mulheres que se destacaram em suas áreas de atuação na cidade. Ao todo, 30 nomes foram homenageados na sessão solene, que se realizou no plenário do Palácio Rio Branco.
A vereadora Professora Josete (PT) ressaltou o papel social igualitário assumido pela mulher enquanto sujeito político no desenvolvimento sócio-econômico. Além disso, Josete lembrou a história da celebração do Dia Internacional da Mulher e apresentou números sobre a violência doméstica.

O dia 8 de março

Em 8 de março de 1857, mulheres operárias paralisaram as atividades de uma fábrica de tecidos de Nova York para reivindicar melhores condições de trabalho. Nas exigências, estavam a redução de horas de serviço na carga diária e a equiparação de salários com os dos homens, além de tratamento digno diante das tarefas por elas realizadas.
A manifestação, porém, foi reprimida com total violência. As mulheres foram trancadas dentro da fábrica, que foi incendiada. Aproximadamente 130 tecelãs morreram carbonizadas.
Somente em 1975, o dia 8 de março passou a ser comemorado oficialmente pelas Nações Unidas como Dia Internacional da Mulher.

Elzira Cocchieri

Dentre os nomes agraciados na solenidade da câmara, estava o da empresária Elzira Cocchieri, 71, indicada para a homenagem pela vereadora Julieta Reis, do Democratas.
Com muita garra, talento e determinação, Elzira sempre trabalhou para o prestígio da marca Gianni Cocchieri – empresa que fundou há 25 anos. Profissional de habilidade e de vigor, contribui de maneira marcante para o ramo da moda paranaense. Sua grife é aclamada entre os profissionais da alta costura e reconhecida pela qualidade de seus produtos, além se ser vestuário certo nos principais eventos sociais de Curitiba.
Atualmente, Elzira e sua empresa promovem um projeto social na Penitenciária Central do Estado, em Piraquara, Região Metropolitana. Um grupo de detentas tem recebido aulas de costura, ministradas por profissionais da Gianni Cocchieri. Graças a essas novas lições de moda e de vida, as mulheres de Piraquara já podem traçar perspectivas para um futuro mais próspero.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

ARTIGO: O ALTERNATIVO, A PARTE E O TODO



Ser alternativo é propor distintas possibilidades de reflexão em meio às mesmices e aos tantos clichês ‘impostos’ por padrões sócio-culturais. É fazer emergir discussões sobre temas considerados oblíquos, geralmente negados dentro de um âmbito social. É promover uma mediação acerca de determinada ideologia desconhecida, a ponto de torná-la ‘notória’. É respeitar qualquer esfera de conhecimento ou de comportamento diferente das ‘habituais’. É conviver harmonicamente ao lado do ‘incomum’, deixando de lado pré-julgamentos. E é, acima de tudo, respeitar a posição das minorias. Afinal, tanto os grupos maiores, quanto os menores, são porções que fazem parte de um mesmo todo maior: a sociedade.


"O todo sem a parte não é todo
A parte sem o todo não é parte
Mas se a parte faz o todo, sendo parte
Não se diga, que é parte, sendo todo".


Salve salve um dos pioneiros da 'mídia alternativa', Gregório de Matos - o "Boca do Inferno".

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

ARTIGO: DOIS MILÉSIMO NONO


Pretensão seria bradar por um 2009 especialmente diferente de anos outros. Afinal, em que esse novo ano se diferenciaria diante dos anteriores - sejam eles contemporâneos de uma mesma década ou decorridos séculos atrás? Talvez em quase tudo. Ou em nada.

O avanço das demandas tecnológicas, em suas mais específicas áreas de aplicação – da ciência à arte -, é ininterrupto. Continuamente volúvel, por assim dizer. Sujeito a mudanças, a cada dia, a cada vez. Não, nenhum ano é igual ao outro tomando como comparação o desenvolvimento da tecnologia - vide 2008 e suas tantas novidades.

A corrupção, por sua vez, em todos seus níveis – do livro não devolvido ao escândalo do mensalão -, parece-me um mal imutável. Para não dizer eterno. Corrupta é a humanidade desde a sua essência – do dantes ao porvir. Corrupções a menos ou a mais, em todos os anos são iguais.

Tecnologia e corrupção. Um antagonismo, em verdade. Ambas inevitáveis, na eternidade do "mais do mesmo". Uma, porém, sujeita ao “admirável mundo novo” das evoluções; outra presa ao inerente mal ancestral.

2009 não será igual. Tampouco diferente.

Um ano "novo" a todos!

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

(Carlos Drummond de Andrade, "Receita de ano novo")

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

ARTIGO: 2008 E SUAS TRAGÉDIAS

Não me restam dúvidas de que o Brasil, em 2008, foi sucumbido por tragédias. E tragédias em suas diversas facetas - considerando o sentindo amplo do termo, que engloba tanto grandes catástrofes e acontecimentos fatídicos, quanto desventuras individuais (que, ainda que efêmeras, por vezes acabam alçadas à condição de “grandes dramas coletivos”).

Aliás, nesse ano, muitos foram os dramas pessoais transformados em alvo de badalação e que despertaram horror entre cidadãos sequer envolvidos em tais fados. Foram, de fato, tragédias, na medida em que culminaram em terror, morte e, sobretudo, tristeza aos próximos. Ainda assim, talvez não fosse o caso de esses episódios de conseqüências restritas aos envolvidos terem se tornado o “almoço e jantar” de um sem número de cidadãos alheios. Mas foram.

A menina Isabella

Como não se lembrar do mais do que explorado caso Isabella Nardoni? Em 29 de março, a menina de cinco anos foi atirada do sexto andar do Edifício London, em São Paulo. Pelo que se suspeita (ou melhor, pelo que quase se confirma), tal atrocidade foi cometida por Alexandre e Anna Carolina, pai e madrasta.

Uma sinistra trama familiar, com seus vilões e heróis – a mãe, também Ana Carolina, foi aclamada “heroína” em seu sofrimento. Mesmo de foro íntimo, no entanto, o episódio virou "atração nacional" por mais de um mês. O anseio coletivo por justiça beirou o fanatismo pela desgraça alheia. E aquela que seria uma tragédia exclusiva às famílias Nardoni, Jatobá e Oliveira se tornou um dos fatos trágicos mais lembrados pelos brasileiros em 2008.

Eloá e Rachel

Dentre outros assassinatos brutais – e que de um universo particular também se desdobraram em manchete nacional -, estão as barbáries contra Eloá e Rachel, respectivamente: a ex-namorada de Lindemberg, feita refém em cárcere privado, na cidade de Santo André, e morta no quinto dia de seqüestro pelo próprio rapaz; e a guriazinha curitibana encontrada já sem vida e com sinais de estupro em uma mala na Rodoferroviária da capital do paranaense. Ambos os casos - em especial o seqüestro no ABC paulista – receberam intensa veiculação da mídia e foram pauta de incontáveis edições de telejornais e demais publicações.

A exposição dos fatos frente aos veículos da imprensa foi determinante para que desgraças pessoais como essas ganhassem notoriedade em todo o país, mesmo sem uma franca relevância aos brasileiros.

Catástrofes naturais

Como há muito não se via, pelo menos não com tanta intensidade, em 2008 vários foram os dramas individuais convertidos em tragédias – e isso talvez devido à “sede pela tormenta alheia” inerente à espécie humana.

Mas o que dizer das catástrofes naturais e dos desastres ambientais ocorridos no Brasil; aquelas tragédias que, de fato, deveriam despertar a legítima atenção de toda a população? Por parte de muitos, não receberam a vigilância condizente ao peso de sua relevância.

Há um enorme desastre ambiental ocorrendo no norte do Brasil; desastre esse que inacreditavelmente está sujeito à sombra de outros fatos corriqueiros e banais. A Amazônia se mostra cada vez mais degradada – e cada vez menos respeitada. A floresta já perdeu quase 20% do seu tamanho original. Uma lamentável tragédia, que acaba despercebida em vidas cosmopolitas distantes da floresta.

A região sul, por sua vez, foi palco de uma intempérie da natureza. No “país tropical abençoado por Deus”, o estado de Santa Catarina foi engolido por tormentas e conseqüentes enchentes na iminência do verão. No Vale do Itajaí, a região mais atingida, cidades arrasadas, famílias desabrigadas e 131 mortos em uma das maiores catástrofes naturais registradas em território nacional.

Uma vez mais, dramas de pessoas anônimas foram explorados à exaustão. Não que se conteste a lástima dos atingidos, ou que se despreze as vidas perdidas. Mas há de se considerar, tão veemente, os efeitos ambientais, não menos trágicos do que as desgraças humanas. Outras catástrofes como a catarinense são ameaças certas. E não só: são ameaças bem maiores e mais prováveis do que um pai que joga a criança da janela ou do que um namorado que seqüestra a ex - até porque, não são todos os capazes de cometer tamanhos absurdos.

Tragédias maiores, tragédias menores, mais ou menos relevantes, mais ou menos creditadas. Afinal, como medir uma tragédia e atribuir a ela um grau de importância social? Pela legítima importância em uma sociedade? Pelas mortes provocadas? Pela comoção despertada? Ou pela espetacularização da mídia?
Em 2008, um patrimônio do Brasil esteve à mercê do descaso dos próprios brasileiros. No outro meridiano do país, os efeitos colaterais do descaso à natureza - que se alastram da Amazônia aos pampas - deixaram um estado submerso em água, lama e tristeza. Mas foram Isabella, Eloá, Rachel e as tantas outras vítimas de crimes espetacularizados os que estiveram em foco, assim recebendo uma atenção descabida. Ganharam o estigma de grandes tragédias nacionais. Ainda que não tenham sido.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

SURREALISMO

Movimento fez da imaginação o seu princípio artístico


O sonho não pode ser também aplicado
à solução das questões fundamentais da vida?



A frase acima é um fragmento pertencente ao Manifesto do Surrealismo, idealizado pelo poeta e psiquiatra francês André Breton, em 1924, na cidade de Paris. O texto, em sua íntegra, sugere as diretrizes do movimento que fez da espontaneidade psíquica o seu princípio artístico.


O Surrealismo foi uma corrente de vanguarda emergente no período do “entre-guerras” europeu, na década de 20. Permeado pelas teorias freudianas, o movimento revela o papel das manifestações espontâneas do inconsciente na atividade criativa – o chamado automatismo psíquico. A visão artística surrealista se abstém das exigências intelectuais da razão para fazer expressar a imaginação. Nesse antagonismo à lógica e ao domínio da consciência, explora-se a força criativa do subconsciente, por meio da visão fantasiosa sobre aspectos reais, da ênfase no caráter poético e do abandono das formas convencionais de representação.


As manifestações surrealistas emergem como oposição à suposta racionalidade da ciência, da religião e da moral pregada pela sociedade burguesa do início do século XX. O Surrealismo explora a imaginação – parâmetro oposto à racionalidade -, valorizando a livre associação de pensamentos, os sonhos e a força criativa do subconsciente. Nesse aspecto, a corrente surrealista se norteia pelas teorias psicanalíticas de Sigmund Freud, que mostram a importância do inconsciente na criatividade do ser humano. Para Freud, a psique humana deveria se desprender da lógica racional/intelectual imposta pelos padrões comportamentais e morais da sociedade para, assim, dar vazão aos "ecos" e às manifestações oníricas do inconsciente.


O automatismo psíquico, expressão espontânea de um pensamento não-racional, é um dos princípios nos quais surrealistas se fundamentam quando da criação de suas obras. Outros recursos explorados pelos artistas são o humor e a chamada contra-lógica. Os artistas apresentam trabalhos artísticos que depreciam valores pré-ditados pela burguesia operante, através de devaneios inconscientes da sondagem do mundo interior – portanto, uma visão subjetiva e surreal de uma realidade mensurável.
As principais manifestações surrealistas se encontram nas artes plásticas – sobretudo, na pintura. O mundo concreto foi expresso diante dos livres impulsos do automatismo psíquico. Nas telas, as formalidades reais se aproximam ao fantástico, ganhando contornos imaginários e não-convencionais, permeados pela subjetividade de cada artista.

Expoentes

 O Carnaval de Arlequim - Joan Miró















Joan Miró (1893-1983), artista espanhol, conseguiu agregar características oníricas à realidade estampada em suas obras, conservando o frescor da imaginação alheio ao julgamento intelectual.

Suas telas mostram traços nítidos e formas sinceras na aparência, mas difíceis de serem elucidadas - embora se apresentem de forma amistosa ao observador. Maternidade (1924), O Carnaval do Arlequim (1924-25) e Noturno são reconhecidas obras de Miró.


Salvador Dali (1904-1989) é o mais conhecido dos artistas do Surrealismo. Suas obras singulares são facilmente reconhecidas pela combinação de imagens bizarras e oníricas, com excelente qualidade plástica. Criou o conceito de “paranóia critica” para referir-se à atitude de quem recusa a lógica que rege a vida comum das pessoas. A Persistência da Memória (1931) – cena em que relógios se derretem - é o quadro símbolo da geração.


No cinema, os diretores romperam com o tradicionalismo cinematográfico de até então. Assim como em todas as outras manifestações surrealistas, os ideais da burguesia e de entidades como a Igreja e o Estado são retaliados. A não-continuidade dos enredos é marca da desconstrução da realidade factual, que ganha interpretações e contornos fantasiosos. Dentre os clássicos do gênero destacam-se Um Cão Andaluz (1928) e L'Âge D'Or (1930), ambos do diretor Luís Buñuel em parceria com Salvador Dali.




Trailler de Um Cão Andaluz (Un Chien Andalou - 1928).