Em noite inspirada, quarteto toca os grandes sucessos e arrebata a multidão
Antes tarde do que ainda mais tarde, decidi
registrar minhas impressões sobre a mais do que esperada e já memorável
apresentação do Los Hermanos no festival Lupaluna, em Curitiba, na última
sexta-feira (18). Ou melhor: no irromper da madrugada de sábado (19), pois
passava da meia-noite quando os músicos subiram ao palco LunaStage para
levar ao delírio os milhares de fãs saudosos da banda, que não se apresentava
na capital paranaense desde 2006.
Embora eu tenha evitado conferir o
setlist que rolou nas outras cidades pelas quais a turnê em comemoração aos 15
anos de trajetória dos Hermanos até então tinha passado, não resisti à tentação
de passar a tarde de sexta ouvindo o registro do show na Fundição Progresso
(Sony BMG, 2007). Com isso, acabei
meio que prevendo o repertório reservado para o show no Bioparque – afinal, ainda
que se concentre no álbum 4
(Sony BMG, 2005), a seleção do dvd resume bem a história musical do bloco de
Marcelo Camelo, Rodrigo Amarante, Bruno Medina e Rodrigo Barba.
Apesar da minha torcida (que, em si,
já esperava por uma noite, no mínimo, inesquecível), eu não imaginava que o
show seria ainda mais surreal do que as minhas expectativas – sem exagero. O
Los Hermanos correspondeu à devoção apaixonada da plateia, que não precisou de
mais do que os dois primeiros acordes de “O Vencedor” para deixar claro que
acompanharia a banda por toda a apresentação, mesmo sob o frio e o sereno curitibanos.
Depois de um hiato que se prolongava
desde a última apresentação dos barbudos, no festival SWU, em 2010, o grupo se
mostrou entrosado e muito afim de estar ali, tocando e curtindo a noite, o
público e as músicas. A seleção do repertório, os acordes afinados e a
dedicação em fazer um bom show consolidaram ainda mais o pensamento de que eu
estava diante de um concerto ímpar.
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Depois de quase seis anos sem tocar na capital paranaense, o Los Hermanos voltou a Curitiba para fazer uma apresentação memorável. Foto: Lupaluna 2012 (Divulgação) |
Ao todo, foram 19 canções executadas, acompanhadas pelos músicos de apoio (Bubu: trompete; Mauro Zacharias:
trombone; Índio: saxofone e clarineta e Gabriel Bubu: baixo, guitarra e voz) e
cantadas em uníssono pelo público. Com oito de suas 15 faixas, não foi de se
espantar que o álbum Ventura (BMG, 2003) tenha dominado o setlist apresentado
no show de Curitiba (o mais curto da turnê, diga-se), afinal é considerado por
muitos fãs – inclusive por mim – o mais completo da banda.
A surpresa (ou nem tão surpresa assim,
vide o próprio Fundição Progresso) foi a execução de quatro canções em
sequência do álbum de estreia, Los Hermanos (Abril Music, 1999), iniciada pelo
megahit “Anna Julia” - que catapultou o quarteto no cenário musical brasileiro e
que, durante algum tempo, fora deixada de lado pelo grupo. De Bloco do Eu
Sozinho (Abril Music, 2001) e 4, apenas os clássicos: “Todo Carnaval Tem Seu
Fim”, “A Flor” e Sentimental (senti falta de "Casa Pré-Fabricada"); “O Vento”, “Morena” e “Condicional”,
respectivamente. E antes que pensem que eu errei nas contas, na sequência das
introspectivas rolou “Descoberta”, também do primeiro álbum.
Dentre tantos momentos marcantes no
show do Los Hermanos, eu destacaria os já tradicionais confetes e serpentinas
que voaram tão logo Camelo entoou os versos do melancólico fim do carnaval, a
catarse coletiva em “Sentimental”, “Conversa de Botas Batidas” e "Último Romance" e o momento em que Rodrigo Amarante pulou do palco para, junto aos fãs, cantar “Quem Sabe”. Apoteótico! Isso sem
deixar de citar a cumplicidade entre a dupla de compositores e vocalistas, seja
trocando olhares, notas e sorrisos, seja interagindo entre si e com os outros
integrantes, o baterista Barba e o tecladista Medina (que, em seu twitter, chegou a lamentar a distância do público em relação ao palco).
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Bruno Medina (no detalhe), o "quinto hermano" Gabriel Bubu, Camelo - em uma das músicas em que toca baixo - e Amarante no vocal. Foto: Lupaluna 2012 (Divulgação) |
Tenho a impressão de que a apresentação
dos Hermanos apesar de curta foi a melhor do festival e olha que eles pouco interagiram com o público. E digo isso não
apenas por razões pessoais e "catárticas"; o espetáculo foi
musicalmente impecável, além de surreal para os fãs. Ao final de apenas 1h15 de show,
ficou a certeza de que a maioria dos espectadores da plateia do LunaStage esteve
ali para acompanhar o quarteto, talvez a banda mais representativa do rock
brasileiro da década de 2000. Ficou, ainda, a sensação de que esse será um daqueles shows
inesquecíveis na vida de quem a ele assistiu. E cantou. E pulou. E se
emocionou. "Assim é que se faz"!