[... guarda esse que não percebera nada incomum naquela tarde antes da repentina chegada da viatura do POVO em frente de sua guarita]
Mas o guarda não pôde deixar de notar as tantas pessoas que passaram a acompanhar o mistério do cadáver. E passaram a se juntar, umas atraídas pelas outras. E passaram a reparar em cada detalhe daquele cenário. E passaram a antever as próximas ações.
Diante dos olhares da gente entretida pela mesma razão, a escada extensível do caminhão foi rebaixada até o fundo do fosso, uns cinco metros abaixo. O soldado Mazepa desceu. Mas, ao descer do bombeiro, a atenção se voltou à outra cena bizarra: um rato tentava subir o primeiro dos degraus da escada. Era o esforço “sobrenatural” do roedor para alcançar os 30 centímetros que o separavam de uma tentativa de fuga. Sem êxito. A água do esgoto, impregnada em seu pelo, o fazia escorregar.
O soldado chegou perto do corpo. Bem perto. Olhou. E nada mais. Apenas os peritos teriam a permissão para abordagem e remoção do cadáver. Muito tempo depois a viatura da Polícia Científica finalmente chegou. E demorou a chegar.
Deram, pois, início à perícia na área onde repousava o cadáver, realizando uma série de procedimentos de análise criminalística. Eram os costumeiros exames periciais realizados por quem leva a vida se deparando com a morte. Entre baforadas de um cigarro recém-aceso, um dos legistas sentenciava: “Morreu! Morreu o fia da puta”! A sangue frio, o homem ria da morte que, a ele, era apenas mais uma.
Coleta, identificação e checagem de possíveis evidências. Fotos e anotações e hipóteses. No caso do homem jogado no canal do Belém, apenas burocracia. Nada se podia supor sobre a origem do morto. Não aparentemente. Não antes de uma análise mais profunda e contundente, que, possivelmente, nem aconteceria. Era um corpo. Apenas mais um corpo. Um corpo que não faria falta.
Pouco além, entraram em cena os legistas do Instituto Médico Legal. Além dos visíveis hematomas nas costas, os peritos encontraram marcas de violência na cabeça e no rosto desconfigurado. À tardinha, quase no crepúsculo daquela noite de verão, removeram o corpo que, mais tarde, não seria identificado. Talvez por falta de evidências suficientes que pudessem apontar conclusões sobre o crime. Talvez por falta de relevância daquela morte. Daquele resto de vida largado no esgoto.
Em tempo: só no fim de semana do dia 8 de fevereiro, 26 assassinatos foram registrados na grande Curitiba. O cadáver da ciclovia foi relegado a uma nota despretensiosa e derradeira num jornal da cidade:

Diante dos olhares da gente entretida pela mesma razão, a escada extensível do caminhão foi rebaixada até o fundo do fosso, uns cinco metros abaixo. O soldado Mazepa desceu. Mas, ao descer do bombeiro, a atenção se voltou à outra cena bizarra: um rato tentava subir o primeiro dos degraus da escada. Era o esforço “sobrenatural” do roedor para alcançar os 30 centímetros que o separavam de uma tentativa de fuga. Sem êxito. A água do esgoto, impregnada em seu pelo, o fazia escorregar.
O soldado chegou perto do corpo. Bem perto. Olhou. E nada mais. Apenas os peritos teriam a permissão para abordagem e remoção do cadáver. Muito tempo depois a viatura da Polícia Científica finalmente chegou. E demorou a chegar.
Deram, pois, início à perícia na área onde repousava o cadáver, realizando uma série de procedimentos de análise criminalística. Eram os costumeiros exames periciais realizados por quem leva a vida se deparando com a morte. Entre baforadas de um cigarro recém-aceso, um dos legistas sentenciava: “Morreu! Morreu o fia da puta”! A sangue frio, o homem ria da morte que, a ele, era apenas mais uma.
Coleta, identificação e checagem de possíveis evidências. Fotos e anotações e hipóteses. No caso do homem jogado no canal do Belém, apenas burocracia. Nada se podia supor sobre a origem do morto. Não aparentemente. Não antes de uma análise mais profunda e contundente, que, possivelmente, nem aconteceria. Era um corpo. Apenas mais um corpo. Um corpo que não faria falta.
Pouco além, entraram em cena os legistas do Instituto Médico Legal. Além dos visíveis hematomas nas costas, os peritos encontraram marcas de violência na cabeça e no rosto desconfigurado. À tardinha, quase no crepúsculo daquela noite de verão, removeram o corpo que, mais tarde, não seria identificado. Talvez por falta de evidências suficientes que pudessem apontar conclusões sobre o crime. Talvez por falta de relevância daquela morte. Daquele resto de vida largado no esgoto.
Em tempo: só no fim de semana do dia 8 de fevereiro, 26 assassinatos foram registrados na grande Curitiba. O cadáver da ciclovia foi relegado a uma nota despretensiosa e derradeira num jornal da cidade:

Mais um.
(Essa é uma história real.)