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segunda-feira, 30 de março de 2009

CICLOVIA: A MORTE ESTÁ AO LADO

PARTE I


Curitiba, oito de fevereiro de 2009, um domingo de sol. Longe do mar e em um cenário como esses, visitar parques e praticar esportes se tornam umas das (poucas) opções de lazer no fim de semana da capital paranaense. Em direção a um dos 26 parques curitibanos, os mais de 100 km de ciclovias que atravessam a cidade são a atração mais movimentada aos sábados e domingos. Um programa gratuito, saudável e ecologicamente correto.

Bairro do Ahú, região central. Às margens do Rio Belém, na ciclovia que segue em direção ao Passeio Público, João Paulo, Maicon e Jhonatan pedalavam distraídos, como tantos outros meninos, em meio ao vai-e-vem de bicicletas. Os guris, no auge de seus 15 ou 16 anos, faziam daquela tarde de verão um dia para sair do Bairro Alto – onde moram – e passear, quase sem rumo, montados em suas bikes vermelho tijolo, verde metálica e bordô.

Mas já no caminho de retorno, uma paisagem se ergueu súbita em frente aos três; paisagem estranha ao que se costuma ver nas rotas dos ciclistas. João Paulo, Maicon e Jhonatan correram afoitos em direção ao inesperado. E se aproximaram o suficiente para avistarem, incrédulos, o corpo de um homem jogado no canal do Belém. Seria fúnebre demais para que fosse verdade. Mas era. Na galeria de um rio que há muito virou esgoto, repousava a carcaça de um cadáver.

E assim era o que se via: um homem de bruços, cabelo raspado à máquina, calça de moletom azul, camisa aos trapos manchada pela água suja e densa. Nos pés, um par de um modelo Nike Shox. No corpo de costas, aparentemente não havia marcas de sangue. Ainda assim, era possível ver uns quatro ou cinco hematomas inchados nas costas descamisadas. Por certo, resultado dos obstáculos no macabro percurso do corpo na canaleta do rio.

Como os três meninos, uma família que por ali passava também percebeu o homem, prostrado em sua morte. Os olhares mais atentos viram e não deixaram de enxergar: perto da grama verdinha que vende Curitiba, havia um corpo falecido, entre ratos e dejetos.
(continua nos próximos posts)

5 comentários:

  1. Adorei o detalhe da cor das bicicletas!
    ahah

    trágico. O dono do nike, quem era?

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  2. Ahn... é bom que a senhorita faça o próximo post logo! Quero saber o que houve com esse ser do esgoto!

    Curitiba anda tão violenta, que já não me surpreendo tanto com esse tipo de coisas... hnf.

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  3. não só em nossa querida capital, mas em quase todas (pra não generalizar) esta ficando impossível de passear nos parques ou afins, o que antes era sinônimo de tranqüilidade e paz hoje em dia é isso... perigo e muitas vezes como no caso exposto, cenário de morte, CHOCANTE.

    gostei daqui... quero voltar mais vezes.

    beijo e parabéns Anna.

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  4. JURO que li "CLODOVIL: a morte está ao lado".

    Já tava toda feliz em ler a trajetória completa do nosso saudoso Clodô - para os íntimos.


    Perdi a cena do ciclista.
    A enfermagem poderia estar lá.
    Mas a enfermagem não sabe andar de bicicleta.

    Pena.

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  5. Meu vômito " Di Frango" me impossibilitou de presenciar essa cena! =P

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