conteúdos da página PERIÓDICAS: Festival de Curitiba
Mostrando postagens com marcador Festival de Curitiba. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Festival de Curitiba. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 25 de abril de 2016

DA PODRIDÃO, FAZ-SE PINHEIROS E PRECIPÍCIOS

Espetáculo curitibano coloca em cena uma cidade à beira do abismo e os traços biográficos de Wilson Bueno


Stéfano Belo, no tortuoso papel de Bueno, é um dos destaques no espetáculo. Foto: Humberto Araujo/Clix.

Curitiba, meu amor, nós estamos predestinados.
Estamos predestinados ao seu falso luxo, ao seu lixo, às suas rixas, às suas bichas. Aos seus clichês. Aos seus últimos michês.
Nosso amor, meu amor, está oculto, no entanto, sob uma redoma de esteriótipos. De falsos-títulos. De falsos-moralismos. Ao invés de nos assumirmos amantes, devassas, prostramo-nos (ou, pelo menos, fingimos nos prostrar) estáveis tais quais pinheiros. Estanques. Estancados.
Por que nos acovardamos, travestidos em papéis que não são os nossos? Por que o ódio à atriz, se atuamos todos nós nessa terra de disfarces? Por que o julgamento, se estamos todos diante da sarjeta?
Em vida, Wilson Bueno não se acovardou. Optou por flertar com o precipício e fez de sua obra um “diário vagal” – ou a poética do fracasso –, destituído de qualquer idealização ou etiqueta sobre essa cidade de aparências. Uma cidade para a qual não há salvação, nem heróis. Nas narrativas de bares e boleros, revela-se o escritor que, ao invés de se resignar à hipocrisia do cartão-postal, percorreu as vísceras de uma Curitiba perturbadora, à margem.
Em cena, a parceria entre a Selvática Ações Artísticas e O Estábulo de Luxo escarrou, sem covardia, a podridão da capital em um espetáculo revolto, envolto em dores e devaneios. Em sua primeira sessão na Curitiba Mostra, nas instalações do Guairacá Cultural, Pinheiros e Precipícios fez com que o público se inquietasse com a inquietude dos traços e tramas de Bueno. Na confusão de putas e demônios, bairros e becos, eis o universo que permeou vida e obra de um dos principais nomes da literatura paranaense.
Dirigido pelo inquieto (no melhor dos sentidos) Ricardo Nolasco, o espetáculo se reveste de simbologia, manifesta em elementos cênicos mais ou menos óbvios. O ritmo das teclas da máquina de escrever, o entrar e sair do armário, as canções de inferninho, os traços quebradiços em giz, o tilintar de moedas, o incômodo riscar da faca, o tombo do pinheiro são opções estéticas que ajudam a reconhecer – se não racionalmente, pelo menos intuitivamente – a aldeia buenista. Junto à performance do elenco principal (com destaque para as atuações de Patricia Saravy, Jeff Bastos e Stéfano Belo) e à onipresença de um coro de bestas-feras, a composição caótica esboça um labirinto que percorre os caminhos da poética tanto de Bueno, quanto da Selvática e d’O Estábulo – talvez, as companhias curitibanas mais creditadas a revirar nossas entranhas com tamanha autenticidade, sem meios-termos. Faz muito sentido que as linhas de Bueno tenham ganhado fôlego dramático pelo sopro de dois grupos que fazem da arte a resistência, o desbunde, a ode à decadência da capital.
A dramaturgia apresenta tramas que ora se alternam, ora se beijam, como o esboço de uma produção literária, como o arquejo de uma vida. Mescladas às passagens biográficas, certas paisagens de Bolero’s Bar e Mano, a noite está velha se desenham em uma hora e meia de espetáculo. No precioso texto de Francisco Mallmann, os territórios de Bueno revelam-se ainda mais (in)tensos e lembram que o que está em jogo não é o pinheiro a prumo mas, sim, o seu declínio. O descompasso de uma capital à beira do abismo. O ativismo cênico e literário de artistas que não se curvam à “cidade-modelo”.
Por isso, tão verdadeiros. Wilson Bueno, Selvática e O Estábulo de Luxo. Por isso, tão predestinados. A Curitiba. A essa sórdida Curitiba.

segunda-feira, 21 de março de 2016

QUANDO A TRAGÉDIA GREGA SE ESPALHA PELAS RUAS

Espetáculo convida o público a sair do teatro em busca dos flagelos de Édipo



O diretor Darlei Fernandes como Corifeu, o "chefe do Coro", em cena de "Édipo_2: Párodo". Foto: Akio Garmatter/Divulgação.

A Companhia Subjétil volta às ruas da cidade para apresentar “Édipo_2: Párodo”, em cartaz na Mostra Fringe do Festival de Teatro de Curitiba nos dias 23 e 25 de março. O espetáculo convida o público a sair da condição de espectador e seguir um percurso de performances potentes por ruas do São Francisco, setor histórico da capital.
A proposta artística do diretor Darlei Fernandes é abordar o discurso e a função do Coro Trágico como foco principal do evento cênico, a partir do mito e da estrutura dramatúrgica das tragédias gregas. Partindo do Teatro Novelas Curitibanas, os artistas Carol Damião, Daniele Cristyne e Ricardo Nolasco desconstroem a tragédia ideal em busca dos flagelos do filho de Jocasta em quase duas horas de errâncias pela região. Entre a primeira cena e o êxodo, o trajeto contempla pelo menos doze pontos do bairro, dentre os quais a Praça Odilon Mader e o Reservatório do Alto São Francisco.
Pensar Édipo é reexplorar a cidade e entendê-la como um corpo amorfo que cresce e se molda ao seu coro de vozes dissonantes. Não se trata de mais uma releitura da história de Sófocles. Trata-se de uma procura pelo herói – embora, desde o começo do espetáculo, sejamos avisados de que “Édipo não está e nem virá”.
No ano passado, quando em cartaz na Mostra Drama_1, promovida pela Companhia de Bife Seco, assisti ao espetáculo e escrevi algumas ruminações sobre ele n'A Escotilha (leia aqui). Dentre o que mais me chamou atenção à época, pontuei o seguinte:

"Cabe ressaltar o quanto a região em que a trama se estabelece é decisiva na composição não apenas do cenário, como, sobretudo, da dramaturgia. O conflito proposto por Édipo_2: Párodo funciona, dentre outras coisas, porque traz à cena o bairro-símbolo da divergência ideológica na cidade, a ambiguidade edípica por excelência. Eis um São Francisco que suscita pena e, ao mesmo tempo, encanto. Belo em sua podridão obscura; triste à sombra dos palacetes e discursos moralistas. O orgulho e a vergonha da “urbe-projeto-esgotado”. Um São Francisco esposa e mãe. Gozo e leite".

"Fora Cunha": as incoerências do cenário político nacional farão parte dos textos da peça. Foto: Akio Garmatter/Divulgação.


Para esta temporada no Fringe, a Subjétil promete atualizar a dramaturgia do espetáculo, levando em conta, sobretudo, o atual e conturbado momento político pelo qual o país atravessa. As divergências ideológicas, hasteadas em bandeiras rivais e inflamadas em discursos de amor e ódio, remontam à contradição edípica por excelência. Mais um motivo para conferir este transgressor trabalho da companhia curitibana.
Fundada em 2007 por Fernandes, a Subjétil tem em seus trabalhos a pesquisa de criação cênica em diálogo com a performance, a dança e a arquitetura. Os espetáculos do grupo curitibano são reconhecidos pelo abandono do palco tradicional e das salas teatrais para a invasão do espaço urbano. Em 2010, estreou “Édipo: Prológo”, onde explorava, além do mito, a história da arquitetura da região no entorno do teatro. Neste novo trabalho, Édipo retorna como tema de pesquisa, mas agora sob o olhar do Coro, ou seja, do povo da cidade.
“Édipo_2: Párodo” tem entrada franca. Recomenda-se ao público usar roupas e sapatos confortáveis e levar guarda-chuva, se necessário.

Serviço
Companhia Subjétil
23 e 25 de Março (quarta e sexta), às 18h
Teatro Novelas Curitibanas
Rua Presidente Carlos Cavalcanti, 1222

sábado, 22 de março de 2008

MAIS DO FESTIVAL




Os romances realistas de Machado de Assis primam pela vitalícia contemporaneidade. Helena, obra de 1876, consegue responder a questões da sociedade moderna, em uma teia de articulações e relações humanas vividas há mais de um século.
O conflito do incesto, retratado no enredo, abala os paradigmas sociais e familiares da época, mas também consegue fomentar análises e reflexões atuais.
Cultuando os cem anos da morte de Machado de Assis, o Teatro Marina Machado reverencia o autor com Helena, espetáculo baseado no romance.

HELENA
Local: Teatro Marina Machado
Rua Amintas de Barros, 549
Dias 21, 22, 23, 27, 28, 29 e 30, às 21 h

ENQUANTO ISSO, NO FESTIVAL DE CURITIBA...


Uma boa sugestão para quem estiver na dúvida sobre a qual peça assistir neste festival é o humorístico "Santa Comédia", da Ethos Cia de Teatro, em cartaz no Bar Santa Marta.

Com um texto leve, os curitibanos Fábio Lins, Marco Zenni e Léo Lins apresentam um espetáculo nos moldes das comédias 'stand up', sem uso de cenografia, caracterizações ou adereços. Para prender a atenção da platéia, apenas o enredo (hilário, por sinal) e as excelentes atuações do trio que, a cada noite, recebe um convidado.






SANTA COMÉDIA



Local: Bar Santa Marta
Rua Bispo Dom José, 2030
Dias 23, 25 e 26 às 20h; 24 às 21h e 30 às 18h e às 20h