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quarta-feira, 11 de julho de 2012

O BAIRRISMO PARANAENSE NA FINAL DA COPA DO BRASIL



Em tempos das decisões dos mais relevantes campeonatos disputados por equipes brasileiras no primeiro semestre (a ver, Libertadores da América e Copa do Brasil), sempre me deparo com manifestações inflamadas do velho discurso "valorize o futebol do seu estado" e com as consequentes defesas - por vezes ofensivas! - desse viés um tanto quanto bairrista.


Charge: Los Três Inimigos, por Tiago Recchia (Gazeta do Povo).

Por conta do segundo jogo da final da Copa do Brasil, que vai ser disputado entre Coritiba e Palmeiras, esta quarta-feira será um dia em que as timelines do Facebook e do Twitter serão bombardeadas por tais comentários, no pior estilo "transmissão simultânea" by globoesporte.com.
NÃO sou hipócrita e NÃO endosso o regionalismo - pelo menos, não no futebol. Assim sendo, eu realmente desejo que o Coxa, assim como no ano passado, NÃO se sagre campeão. Mas, ao contrário do que se poderia supor, não digo isso tão somente pelo fato de ser atleticana paranaense - e aqui, sim, cabe ressaltar o "paranaense".
Desde que comecei a me interessar por futebol, no início da década de 90, eu torço pelo verdão do Palestra Itália - e não vejo mal algum em minha torcida. Aliás, qual é o transtorno ou o incômodo que isso pode suscitar na vida dos que adotam a postura "sou do Paraná, torço para os times daqui"? Até porque, se houvesse, de fato, problema e, mais, se teoria e prática defendessem o mesmo escudo, muitos desses pseudo-moralistas NÃO desfilariam por aí com suas camisas do Barcelona, do Chelsea ou até mesmo da seleção da Argentina. Demagogia pouca é bobagem.
Assim como na escolha por determinada religião ou por uma bandeira política, cada um é livre para vibrar pelo time que bem entender, seja o clube do Paraná, do Acre ou de El Salvador.
Portanto, hoje, ilustres anti-"elite", anti-eixo ou anti-qualquer-coisa-que-não-seja-do-estado de plantão, respeitem a quem, assim como eu, é de Curitiba e torce pela Sociedade Esportiva Palmeiras. Afinal, NÃO há problema em ser fã de um esquadrão que fascinou muitos torcedores - inclusive paranaenses! - com os bi-campeonatos paulista e brasileiro em 93 e 94. Por sinal, uma época em que a dupla Atletiba minguava nos prados da 2ª divisão do nacional e mal despertava interesse nos novos hinchas daqui, que, aos pares, passaram a torcer pelo recém-fundado Paraná Clube.
De toda forma, boa sorte a ambas as equipes finalistas. Independente da federação a que pertença, que vença a mais competente. E, sem essa de bairrismo barato, dá-lhe Porco, o alviverde imponente!

sexta-feira, 6 de abril de 2012

DO JORNALISMO, COMO EU O VEJO – OU GOSTARIA DE VÊ-LO



Em uma sociedade livre e democrática, na qual a mídia detém grande alcance de veiculação, o jornalismo representa muito além do simples (e, por vezes, meramente burocrático) fruto do labor diário de um repórter. O jornalismo, mais do que campo de atuação profissional, é serviço de valiosa função social. Isso porque cabe ao jornalismo não apenas o informar, mas também o formar; não somente o pautar, como ainda o apontar, o debater, o refletir, o denunciar, o educar, o servir, o entreter. Ao cabo, cabe ao jornalismo a relevância e a responsabilidade de atuar na construção de uma sociedade mais consciente e na formação de cidadãos mais atentos ao seu papel no mundo.
Parece certo, pois, que o jornalismo deva apontar para a análise dos conflitos mundiais e para as consequências dessas situações em nosso cotidiano, de modo a incitar o leitor a situar-se como membro de uma comunidade global e a entender-se como cidadão - pelo menos, em uma tese que, em si, é um tanto inspiradora. No entanto, além de suscitar a cidadania que existe em cada um, o jornalismo deveria voltar-se para o que há de humano e de (in)comum em cada um; o revelar do colorido de uma trajetória anônima, o dia-a-dia dos Josés e Marias, as histórias cujas tramas se desenham nas ruas dos bairros, além dos limites dos rincões da vida que ninguém vê.
A prática de um jornalismo mais orgânico representa um parâmetro oposto à brevidade ou ao cerimonialismo que parecem imperar nos textos dos jornais atuais. Ao contrário dos resumos lacônicos e efêmeros dos leads e sub-leads, a reportagem pode valer-se de uma narrativa pormenorizada, que extrapole a frieza dos dados técnicos e, por vezes, chatos das pautas. No exercício de emulação de fatos reais, o texto jornalístico ideal - pelo menos a mim e a quem busca verdade nas linhas grises das gazetas e tribunas - deve expressar detalhes de pessoas, situações, cenários, trejeitos, cores, texturas, cheiros e outras perspectivas sutis. São essas nuances as quais possibilitam a arquitetura de uma narrativa a partir de elementos literários e em consonância com as prerrogativas da qualidade da informação aos leitores. E, o principal: que conferem humanidade ao jornalismo.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

UFANIA


As histórias são as mesmas e se repetem a cada vez em que o gravador da ufania insiste em reproduzir os ecos do passado. Lembranças saudosistas (ah, as velhas lembranças!) povoam o imaginário dos que procuram nas linhas anacrônicas da existência o consolo para o medo do porvir. A incerteza de que o “tempo bom” jamais retorne é um poço profundo: prostra no pretérito quem não se surpreende com o presente.

Velhos tempos... “Os anos mais felizes”. Assim sempre serão; pelo menos, àqueles que se frustram diante do novo ininterrupto. Repetições se prolongam: “aquele brinquedo”, “aquele professor”, “aquele amor”, e “aquele brinquedo” e “aquele professor” e “aquele amor”. O gosto da novidade não está nos lábios de quem se afoga nos sabores do mais do mesmo.

Por que não “este amor”? Este tempo (o avanço das tecnologias, a cura para as doenças, a consolidação da democracia, a liberdade de expressão e tantos outros adventos de uma nova era) é o tempo que passa despercebido nas rodas e cirandas permeadas por um suposto “mais-que-perfeito”. Aliás, muitas vezes, tão ou mais imperfeito quanto o agora.

Ah, as velhas lembranças... Ilusórias, fecham os olhos para o colorido do hoje, do amanhã, do depois. O inesperado sempre está adiante, ao alcance das mãos do contemporâneo e satisfeito. Mas talvez não à vista dos ufanistas do passado. Saudosistas eternos: A MEMÓRIA É UM AFAGO À CONSCIÊNCIA ENTERRADA NO ONTEM.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

ARTIGO: O ALTERNATIVO, A PARTE E O TODO



Ser alternativo é propor distintas possibilidades de reflexão em meio às mesmices e aos tantos clichês ‘impostos’ por padrões sócio-culturais. É fazer emergir discussões sobre temas considerados oblíquos, geralmente negados dentro de um âmbito social. É promover uma mediação acerca de determinada ideologia desconhecida, a ponto de torná-la ‘notória’. É respeitar qualquer esfera de conhecimento ou de comportamento diferente das ‘habituais’. É conviver harmonicamente ao lado do ‘incomum’, deixando de lado pré-julgamentos. E é, acima de tudo, respeitar a posição das minorias. Afinal, tanto os grupos maiores, quanto os menores, são porções que fazem parte de um mesmo todo maior: a sociedade.


"O todo sem a parte não é todo
A parte sem o todo não é parte
Mas se a parte faz o todo, sendo parte
Não se diga, que é parte, sendo todo".


Salve salve um dos pioneiros da 'mídia alternativa', Gregório de Matos - o "Boca do Inferno".

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

ARTIGO: DOIS MILÉSIMO NONO


Pretensão seria bradar por um 2009 especialmente diferente de anos outros. Afinal, em que esse novo ano se diferenciaria diante dos anteriores - sejam eles contemporâneos de uma mesma década ou decorridos séculos atrás? Talvez em quase tudo. Ou em nada.

O avanço das demandas tecnológicas, em suas mais específicas áreas de aplicação – da ciência à arte -, é ininterrupto. Continuamente volúvel, por assim dizer. Sujeito a mudanças, a cada dia, a cada vez. Não, nenhum ano é igual ao outro tomando como comparação o desenvolvimento da tecnologia - vide 2008 e suas tantas novidades.

A corrupção, por sua vez, em todos seus níveis – do livro não devolvido ao escândalo do mensalão -, parece-me um mal imutável. Para não dizer eterno. Corrupta é a humanidade desde a sua essência – do dantes ao porvir. Corrupções a menos ou a mais, em todos os anos são iguais.

Tecnologia e corrupção. Um antagonismo, em verdade. Ambas inevitáveis, na eternidade do "mais do mesmo". Uma, porém, sujeita ao “admirável mundo novo” das evoluções; outra presa ao inerente mal ancestral.

2009 não será igual. Tampouco diferente.

Um ano "novo" a todos!

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

(Carlos Drummond de Andrade, "Receita de ano novo")

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

ARTIGO: 2008 E SUAS TRAGÉDIAS

Não me restam dúvidas de que o Brasil, em 2008, foi sucumbido por tragédias. E tragédias em suas diversas facetas - considerando o sentindo amplo do termo, que engloba tanto grandes catástrofes e acontecimentos fatídicos, quanto desventuras individuais (que, ainda que efêmeras, por vezes acabam alçadas à condição de “grandes dramas coletivos”).

Aliás, nesse ano, muitos foram os dramas pessoais transformados em alvo de badalação e que despertaram horror entre cidadãos sequer envolvidos em tais fados. Foram, de fato, tragédias, na medida em que culminaram em terror, morte e, sobretudo, tristeza aos próximos. Ainda assim, talvez não fosse o caso de esses episódios de conseqüências restritas aos envolvidos terem se tornado o “almoço e jantar” de um sem número de cidadãos alheios. Mas foram.

A menina Isabella

Como não se lembrar do mais do que explorado caso Isabella Nardoni? Em 29 de março, a menina de cinco anos foi atirada do sexto andar do Edifício London, em São Paulo. Pelo que se suspeita (ou melhor, pelo que quase se confirma), tal atrocidade foi cometida por Alexandre e Anna Carolina, pai e madrasta.

Uma sinistra trama familiar, com seus vilões e heróis – a mãe, também Ana Carolina, foi aclamada “heroína” em seu sofrimento. Mesmo de foro íntimo, no entanto, o episódio virou "atração nacional" por mais de um mês. O anseio coletivo por justiça beirou o fanatismo pela desgraça alheia. E aquela que seria uma tragédia exclusiva às famílias Nardoni, Jatobá e Oliveira se tornou um dos fatos trágicos mais lembrados pelos brasileiros em 2008.

Eloá e Rachel

Dentre outros assassinatos brutais – e que de um universo particular também se desdobraram em manchete nacional -, estão as barbáries contra Eloá e Rachel, respectivamente: a ex-namorada de Lindemberg, feita refém em cárcere privado, na cidade de Santo André, e morta no quinto dia de seqüestro pelo próprio rapaz; e a guriazinha curitibana encontrada já sem vida e com sinais de estupro em uma mala na Rodoferroviária da capital do paranaense. Ambos os casos - em especial o seqüestro no ABC paulista – receberam intensa veiculação da mídia e foram pauta de incontáveis edições de telejornais e demais publicações.

A exposição dos fatos frente aos veículos da imprensa foi determinante para que desgraças pessoais como essas ganhassem notoriedade em todo o país, mesmo sem uma franca relevância aos brasileiros.

Catástrofes naturais

Como há muito não se via, pelo menos não com tanta intensidade, em 2008 vários foram os dramas individuais convertidos em tragédias – e isso talvez devido à “sede pela tormenta alheia” inerente à espécie humana.

Mas o que dizer das catástrofes naturais e dos desastres ambientais ocorridos no Brasil; aquelas tragédias que, de fato, deveriam despertar a legítima atenção de toda a população? Por parte de muitos, não receberam a vigilância condizente ao peso de sua relevância.

Há um enorme desastre ambiental ocorrendo no norte do Brasil; desastre esse que inacreditavelmente está sujeito à sombra de outros fatos corriqueiros e banais. A Amazônia se mostra cada vez mais degradada – e cada vez menos respeitada. A floresta já perdeu quase 20% do seu tamanho original. Uma lamentável tragédia, que acaba despercebida em vidas cosmopolitas distantes da floresta.

A região sul, por sua vez, foi palco de uma intempérie da natureza. No “país tropical abençoado por Deus”, o estado de Santa Catarina foi engolido por tormentas e conseqüentes enchentes na iminência do verão. No Vale do Itajaí, a região mais atingida, cidades arrasadas, famílias desabrigadas e 131 mortos em uma das maiores catástrofes naturais registradas em território nacional.

Uma vez mais, dramas de pessoas anônimas foram explorados à exaustão. Não que se conteste a lástima dos atingidos, ou que se despreze as vidas perdidas. Mas há de se considerar, tão veemente, os efeitos ambientais, não menos trágicos do que as desgraças humanas. Outras catástrofes como a catarinense são ameaças certas. E não só: são ameaças bem maiores e mais prováveis do que um pai que joga a criança da janela ou do que um namorado que seqüestra a ex - até porque, não são todos os capazes de cometer tamanhos absurdos.

Tragédias maiores, tragédias menores, mais ou menos relevantes, mais ou menos creditadas. Afinal, como medir uma tragédia e atribuir a ela um grau de importância social? Pela legítima importância em uma sociedade? Pelas mortes provocadas? Pela comoção despertada? Ou pela espetacularização da mídia?
Em 2008, um patrimônio do Brasil esteve à mercê do descaso dos próprios brasileiros. No outro meridiano do país, os efeitos colaterais do descaso à natureza - que se alastram da Amazônia aos pampas - deixaram um estado submerso em água, lama e tristeza. Mas foram Isabella, Eloá, Rachel e as tantas outras vítimas de crimes espetacularizados os que estiveram em foco, assim recebendo uma atenção descabida. Ganharam o estigma de grandes tragédias nacionais. Ainda que não tenham sido.