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sexta-feira, 6 de abril de 2012

DO JORNALISMO, COMO EU O VEJO – OU GOSTARIA DE VÊ-LO



Em uma sociedade livre e democrática, na qual a mídia detém grande alcance de veiculação, o jornalismo representa muito além do simples (e, por vezes, meramente burocrático) fruto do labor diário de um repórter. O jornalismo, mais do que campo de atuação profissional, é serviço de valiosa função social. Isso porque cabe ao jornalismo não apenas o informar, mas também o formar; não somente o pautar, como ainda o apontar, o debater, o refletir, o denunciar, o educar, o servir, o entreter. Ao cabo, cabe ao jornalismo a relevância e a responsabilidade de atuar na construção de uma sociedade mais consciente e na formação de cidadãos mais atentos ao seu papel no mundo.
Parece certo, pois, que o jornalismo deva apontar para a análise dos conflitos mundiais e para as consequências dessas situações em nosso cotidiano, de modo a incitar o leitor a situar-se como membro de uma comunidade global e a entender-se como cidadão - pelo menos, em uma tese que, em si, é um tanto inspiradora. No entanto, além de suscitar a cidadania que existe em cada um, o jornalismo deveria voltar-se para o que há de humano e de (in)comum em cada um; o revelar do colorido de uma trajetória anônima, o dia-a-dia dos Josés e Marias, as histórias cujas tramas se desenham nas ruas dos bairros, além dos limites dos rincões da vida que ninguém vê.
A prática de um jornalismo mais orgânico representa um parâmetro oposto à brevidade ou ao cerimonialismo que parecem imperar nos textos dos jornais atuais. Ao contrário dos resumos lacônicos e efêmeros dos leads e sub-leads, a reportagem pode valer-se de uma narrativa pormenorizada, que extrapole a frieza dos dados técnicos e, por vezes, chatos das pautas. No exercício de emulação de fatos reais, o texto jornalístico ideal - pelo menos a mim e a quem busca verdade nas linhas grises das gazetas e tribunas - deve expressar detalhes de pessoas, situações, cenários, trejeitos, cores, texturas, cheiros e outras perspectivas sutis. São essas nuances as quais possibilitam a arquitetura de uma narrativa a partir de elementos literários e em consonância com as prerrogativas da qualidade da informação aos leitores. E, o principal: que conferem humanidade ao jornalismo.