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terça-feira, 29 de março de 2011

AO DOBRAR DOS SINOS

Entre graves e agudos, o som que ecoa das torres da catedral rege o compasso da rotina no coração de Curitiba


Badalo. Badalo. Badalo. Badalo. Infalíveis uma vez mais, os sinos da Catedral Basílica de Curitiba avisam aos transeuntes das imediações da Praça Tiradentes que está findo mais um quarto de hora. A cada vez em que o ponteiro maior de cada relógio da igreja matriz vence a barreira dos quinze minutos, as ações ao redor do marco zero ganham a regência do som que ecoa das torres da catedral. Som que faz parte da memória auricular e da rotina dos curitibanos que por ali passam diariamente.
A mãe anda apressada com o filho no colo. As pombas voam por sobre o carrinho de pipoca. O Ligeirinho Bairro Alto/Santa Felicidade acelera e avança o sinal. Os sinos tocam. A senhora busca refúgio à sombra da árvore. Namorados beijam-se num dos bancos da praça. O turista posa para foto ao lado do táxi curitibocamente alaranjado. E os sinos tocam outra vez.
Poucos, porém, são os que reparam nesse ruído tão próprio do centro da nossa cidade. Isso porque a cadência do cotidiano impõe-se frenética. Mal se tem tempo para prestar atenção na paisagem onde se desenvolvem as ações corriqueiras da Curitiba metrópole. Em meio à disritmia do vai-e-vem de pernas e pensamentos, o que quase sempre está em evidência são os fatos - não o cenário em que a história do dia-a-dia é desenhada.
Quando o palco do espetáculo torna-se o foco, é possível perceber o quão harmônicos são os elementos que regem o pulsar do coração curitibano. À luz do colorido das flores e da gente, a evolução dos passos e compassos ao redor da catedral parece poética. E o dobrar intermitente dos sinos dá o tom àquele pedaço de Curitiba, ecoando por entre as ruas do centro e os ouvidos dos que por elas andam.
Localizada onde a cidade nasceu, a catedral é um dos ícones afetivos da região. É natural que o retumbar dos sinos também seja. Numa conversa informal com comerciantes dali, o comentário, sempre carinhoso, chega a ser redundante: “é um barulho que já faz parte da nossa vida”.
Na sacristia da catedral, um senhor me contou que o ritmo dos sinos, hoje, é totalmente automatizado e é de responsabilidade do Seu Dorvílio, funcionário da paróquia há mais de vinte anos. Basta que ele programe alguns botões para que os badalos soem no tempo e na cadência certos. Entre graves e agudos, mais ou menos harmônicos, a sinfonia varia de acordo com o aviso a ser dado. O tilintar do bronze ressoa em todas as horas cheias, a cada quinze minutos e no horário das missas do dia - a ver: de segunda a sábado, ao meio-dia e às seis da tarde; no domingo, às 8h30, 10h e 18h.

Anna Carolina Azevedo, 25, é jornalista, entusiasta das letras e guria de Curitiba (com orgulho e sotaque!).
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Este artigo integra "TERRITÓRIO - Não muito longe do Marco Zero", especial do jornal Gazeta do Povo em homenagem aos 318 anos de Curitiba.